10 de agosto de 2010

educação no Brasil: que nos mostra o Ideb?

Bons resultados no Ideb não garantem ensino de qualidade em todas as escolas, diz estudo

"Embora as notas estejam crescendo, as desigualdades entre as escolas não estão sendo reduzidas", aponta o conselheiro do movimento Todos Pela Educação, Mozart Ramos

A qualidade do ensino oferecido nas escolas públicas brasileiras tem melhorado, segundo os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados no mês passado pelo Ministério da Educação (MEC).

Mas o bom desempenho de um estado ou município na avaliação não garante que todas as crianças daquela região tenham acesso a uma aprendizagem de qualidade. É o que aponta um estudo do Movimento Todos pela Educação feito a partir dos dados do Ideb de 2009.

A evolução das notas não é acompanhada por equidade, ou seja, dentro de uma mesma rede, há uma grande variação de resultados entre as escolas. "Embora as notas estejam crescendo, as desigualdades entre as escolas não estão sendo reduzidas", aponta o conselheiro do Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos.

O Ideb foi criado em 2005 e funciona como um termômetro da qualidade do ensino público. Cada escola, rede municipal e estadual recebe uma nota calculada a partir dos dados sobre aprovação escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). A média nacional em 2009 foi de 4,6 pontos, em uma escala de 0 a 10. A meta é que o país atinja a nota 6 até 2022.

Em 14 das 27 redes estaduais a disparidade entre os índices das escolas cresceu de 2005 para 2009, segundo o estudo. Nas redes municipais também existe essa variação. Nas capitais, chega a 51% a diferença entre as notas máximas e mínimas das escolas municipais, como ocorre em Vitória (ES). No Rio de Janeiro e em Palmas a variação também é superior a 40%.

Na avaliação do conselheiro, o resultado indica que o secretário de Educação deve olhar o resultado do Ideb do seu estado ou município com "uma lupa" para evitar que as crianças de uma mesma rede tenham "perspectivas de desenvolvimento educacional diferentes".

"Se ele está procurando oferecer oportunidades similares a seus alunos, deve olhar como está cada escola e fazer um trabalho mais de perto com aquelas que estão com baixo desempenho. Não basta só comemorar que o Ideb da rede aumentou", recomenda.

A análise revela ainda que quanto menor a nota do Ideb de uma rede (municipal ou estadual), maior é a variação das notas entre as escolas. Nas redes com melhor desempenho, mais alunos têm acesso à educação de qualidade.

Entre as regiões, o Sul e o Sudeste apresentam maior qualidade e mais equidade, enquanto o Nordeste, que tem os piores resultados, é o local em que há mais disparidade entre as notas das escolas.

Localização da escola também pode interferir na qualidade do ensino

Pesquisa do Movimento Todos pela Educação mostra que escolas de uma mesma rede (estadual ou municipal) podem apresentar diferentes níveis de qualidade de ensino, mesmo quando o município ou o estado atinge bons resultados em avaliações como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Para a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, essa realidade é comum principalmente nas grandes cidades. Escolas em regiões periféricas sofrem mais com problemas sociais e de violência que afetam o desempenho dos alunos.

"Há uma problemática muito específica nas grandes cidades que são as periferias. E é bom lembrar que a desigualdade social tem um impacto muito grande no desempenho da escola", afirma.

Na avaliação do conselheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, além da localização, outros fatores podem influenciar no desempenho da escola em avaliações, ainda que o investimento por aluno dentro de uma rede seja semelhante. Ele acredita que o projeto pedagógico e a direção da unidade podem fazer a diferença no resultado.

"Já vi situações de escolas que ficam no mesmo bairro, eram separadas apenas por um muro, e uma tinha um resultado excelente e o da outra era pífio. A diferença é que em uma delas havia o trabalho de um gestor que tinha liderança entre os professores e se articulava com a comunidade", compara.

Pilar recomenda que os secretários de Educação, ao identificarem as escolas "mais frágeis" do ponto de vista educacional, desenvolvam uma política específica para aquelas unidades.

(Amanda Cieglinski, da Agência Brasil)

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