22 de julho de 2010

Sobre a educação, a tecnologia e a democracia

Dentro de um sistema incapaz de impulsionar de modo significativo a educação, parece pouco provável que consigamos formas mais inteligentes de governo. A despeito dos modelos político-sociais contemporâneos que levam em conta um contingente de excluídos, talvez também não estejamos preparados para galgar evoluções na democracia, visto que essas ações sociais não abarcam modelos efetivamente educacionais. Nem mesmo as novas tecnologias colocadas em situações protagonistas conseguirão tal posição. É uma visão restrita a ação de esperar que os mecanismos para solucionar as brechas digitais, por exemplo, possam resolver as brechas educacionais. Mesmo que as estatísticas apontem o alto índice brasileiro de permanência na internet, esses resultados possibilitam, em maior intensidade, os avanços em inúmeras atividades econômicas, mas estão distantes de indicarem uma evolução na crítica e no pensamento humano. O dado mais pontual que se verifica em relação às mídias digitais na amplitude do termo - é a migração da vida para web: sejam os jornais, os relacionamentos, os negócios, os terrorismos, as propagandas políticas dos grupos de direita, de esquerda ou sem direção definida, o bullying, as artes (...). Enfim, toda a manifestação humana que migra para a rede, seja ela ética ou antiética, moral, imoral ou amoral passa a agregar o prefixo cyber. O acesso às mídias digitais pode estar ao lado para milhões, e gradativamente socializada para outros milhões, entretanto, apenas o desenvolvimento cognitivo - proporcionado por poucas instituições de ensino possibilita transformar a informação em conhecimento.

A tarefa de anular as brechas educacionais é uma competência das políticas públicas de democracias evoluídas. Sem esse pré-requisito, as brechas se expandem e, por sua vez, estimulam a dependência de padrões políticos manipulatórios e persuasivos, são típicos de democracias que vislumbram mais o discurso do que a prática e que são favorecidas por uma educação superficial que acata o controle e os favores financeiros.

Os discursos políticos apregoados não conseguirão mesmo os mais honestos - se desprender da pieguice enquanto a sociedade manter um sistema educacional frágil, de pouco estímulo cognitivo, que enfraquece o espírito crítico da maior parte da população e que sustenta uma democracia parcial.

*Renato Dias Baptista é doutor em Comunicação pela PUC/SP, especialista em Gestão Pública (Unesp) docente da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Universidade Paulista (Unip). Blog: www.ideiaswireless.blogspot.com

Jornal de Londrina

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