23 de julho de 2010

Educação e democracia



Embora fosse desejável, um grau de escolaridade mais elevado do eleitor brasileiro não acarretaria necessariamente mais "qualidade" no voto -seja lá o que isso signifique. A ressalva se faz necessária no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral divulga estatísticas acerca do nível educacional do eleitorado. Diante dos dados, tradicionais questionamentos sobre a capacidade de escolha dos cidadãos reaparecem.
A cada 5 brasileiros aptos a votar, 1 é analfabeto ou nunca foi à escola, revela o TSE. Tal eleitor, na visão de alguns analistas, votaria de forma menos "eu" e teria menor capacidade de discernir as diversas propostas políticas e ideológicas que se apresentam. Sua decisão seria mais suscetível a estímulos imediatos, como benesses ou troca de favores. Políticos populistas e sem escrúpulos tenderiam a se beneficiar da situação.
A "prova" do raciocínio estaria na falta de qualidade dos mandatários brasileiros. Mas o encadeamento de argumentos falha. Embora ainda baixa, a escolaridade dos eleitores tem crescido. A parcela dos que não frequentaram a escola era, segundo a estimativa do TSE, de 26,9%, em 2000, e é agora de 20,5% do eleitorado.
De acordo com o Datafolha, a participação no conjunto do eleitorado das pessoas que têm no máximo o ensino fundamental completo também cai -elas representavam 67% dos entrevistados em 1995, 59% em 2000 e são 48% do total agora.
Seria de esperar que a qualidade dos congressistas brasileiros fosse melhor hoje do que há dez anos, portanto -e ainda muito melhor do que há 15 anos. Mas será difícil encontrar pesquisador que demonstre tal evolução.
A qualidade do debate público, e portanto da política, melhorará, de alguma forma, com a elevação do nível educacional, mas é preciso evitar relações de causa e efeito simplistas, que mais se prestam a deslegitimar as escolhas e reforçar estereótipos equivocados.
Ainda segundo o TSE, o Nordeste é a região brasileira que, proporcionalmente, mais concentra eleitores analfabetos ou pessoas que nunca frequentaram a escola -são 35% do total, contra 12% no Sudeste. Haverá alguém capaz de afirmar que políticos pernambucanos ou cearenses são, de forma geral, piores do que seus colegas do Rio e de São Paulo?

Editoriai, Folha de São Paulo

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