19 de maio de 2010

Família e escola estão em fogo cruzado

ESPECIAL PARA A FOLHA

O conceito de família nem sempre foi igual. No passado, crianças não eram asseguradas pela família. Cedo, envolviam-se com adultos em atos sociais.

Hoje, os pais já não são senhores absolutos da lei e da ordem nem os únicos cuidadores. As mães não são unicamente as protetoras e as zeladoras da educação. Nesse espaço entrou a figura do Estado.

O Estado assumiu para si a formação acadêmica do indivíduo. Na Constituição, o texto legal exprime sem dúvida: "A educação é para todos".

A Unesco (1996), em relatório para a Comissão Internacional sobre Educação para o Século 21, reforça que "a família constitui o primeiro lugar de toda a educação e assegura para isso a ligação entre o afetivo e o cognitivo, assim como a transmissão de valores e normas".

Ao observarmos a escola hoje, percebemos que a violência nos jovens ocorre por vários motivos, e o principal deles é a inadequação social.

Atualmente, crianças desde tenra idade veem-se privadas dos valores imediatos do lar por conta de arranjos em que ambos os pais trabalham, rompendo-se os elos afetivos e cognitivos importantes para a formação da personalidade.

Há ainda o acesso cada vez maior e mais intenso à mídia e a inculcação de valores diferentes ou distorcidos daqueles do ambiente familiar. Vendo que a escola constituiu-se ponto convergente de toda a sociedade, assistimos a episódios de violência nesse ambiente.

Corresponsáveis hoje pela educação, família e Estado -leia-se escola- estão num fogo cruzado. Ambos falham em suas responsabilidades e funções devido aos avanços tecnológicos rápidos, não totalmente absorvidos e dominados.

A propagação das ideias pela mídia e pelas tecnologias criou espaços a que tanto a família como a escola precisam se adequar. Os modelos de conduta que os jovens obtêm não são mais de pleno controle familiar. Toda essa mudança deságua inevitavelmente na escola, que precisa de uma rápida revisão de métodos e valores.

Os meios de prevenção da violência passam por toda a sociedade, que se apresenta tecnológica, consumista e competitiva. É necessário encontrar valores para nortear os jovens.

Devem ser revitalizados, assim, os valores de conduta no seio das famílias. Deve-se dar continuidade ao processo na escola, para valoração do indivíduo nessa ótica de século 21, com internet, celulares e mídia.

A compreensão e a adaptação a esses novos tempos reduzirá os choques de valores, que, na escola, desandam em violência.

ARISTIDES MARCHETTI é pesquisador do Observatório da Violência da USP/Ribeirão Preto

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