6 de maio de 2010


05 de maio de 2010

Escola deve ser solução, não problema

Têm sido cada vez mais frequentes na imprensa relatos de episódios que envolvem estudantes em atos de violência física e psicológica ou ambas. No mês passado, a Gazeta do Povo trouxe esclarecedora matéria sobre violências nas escolas, com destaque para a chamada bagunça . O assunto é da ordem do dia em todo o país. Mães, pais, estudantes e professores têm sofrido com as violências no ambiente escolar, o qual tem se convertido em espaço que, além da bagunça , inclui furto, xingamento, ameaça, agressão física, preconceito, discriminação, tráfico de drogas, tudo isso reforçado pelo uso inadequado dos sites de relacionamento e de troca de arquivos gratuitos da internet, a chamada ciberviolência.

Pesquisa do ano passado Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: violência e convivência nas escolas aborda as relações sociais nas escolas do Distrito Federal e indica, entre outros achados, que 74,9% dos alunos entrevistados (uma amostra de 10 mil estudantes e de 1.500 professores) observaram agressões verbais em suas escolas; e 69,7% dos alunos e 71,1% dos professores afirmaram ter visto agressão física no espaço escolar. Os pesquisadores, baseados nesta e em pesquisas nacionais anteriores, não têm dúvidas de que os resultados obtidos em Brasília refletem uma realidade nacional (a qual, sabe-se por outras fontes, também é internacional).

Quanto à ciberviolência, o estudo revela que mais de um terço dos alunos ouvidos (36,5%) já sofreu, e 17,3% afirmam já ter praticado esse tipo de agressão. Com relação aos professores, 5,3% deles já foram xingados por algum aluno na internet, e 4,7% tiveram fotos suas divulgadas por alunos sem autorização. Curiosamente, são poucos os profissionais de educação que apresentam conhecimento suficiente sobre como orientar os estudantes quanto ao uso mais seguro e conveniente da rede mundial de computadores.

Se as violências nas escolas incluída a ciberviolência têm recebido tanta atenção da imprensa, esse é mais um claro indicativo da urgência de se tomarem medidas para enfrentar e coibir o problema. Professores, gestores escolares, formuladores de políticas públicas, temerosos e preocupados, não podem furtar-se ao compromisso de promover estratégias, métodos e medidas que protejam o ambiente escolar e estimulem melhor convivência entre todos. Se a família e a escola não dão o exemplo, o castigo recai sobre toda a sociedade.

Diante dos diagnósticos mais recentes e mesmo do noticiário, alguns pais talvez temam pelo futuro de seus filhos nas escolas. No entanto, está justamente nas instituições de ensino grande parte da solução para o problema das violências entre estudantes. Afinal, o meio escolar tem papel crucial no estabelecimento de práticas que estimulem a convivência pacífica entre indivíduos.

A escola pode, ainda, comprometer-se com a desconstrução de um imaginário social que associa diversas violências às noções de virilidade e de masculinidade, evitando que essa simbologia viril imprima às agressões o caráter de afirmação de identidade tanto de garotos quanto de garotas. É preciso, enfim, oferecer aos jovens estudantes formas alternativas de reconhecimento social. Afinal, uma vez no mercado de trabalho, não poderão resolver conflitos à base de socos, pontapés, gritos ou puxões de cabelo. Convém que aprendam a comportar-se o quanto antes.

Miriam Abramovay, socióloga e pesquisadora, é coordenadora da pesquisa Convivência Escolar e Violências nas Escolas da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), entre outras atividades. http://miriamabramovay.com

Jorge Werthein, doutor em Educação pela Stanford University, ex-representante da Unesco no Brasil, é vice-presidente da Sangari Brasil. http://jorgewerthein.blogspot.com

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