13 de abril de 2010

Futuro da ciência e do

desenvolvimento

13/4/2010

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A formação de recursos humanos de qualidade é um dos principais fatores limitantes para o avanço da pesquisa e o desenvolvimento no Estado de São Paulo. Mas, para que o ensino superior possa formar mais pesquisadores, o maior desafio é melhorar a qualidade do ensino médio.

Esse foi um dos destaques da palestra de abertura da Conferência Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação (C&T&I), apresentada pelo diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, nesta segunda-feira (12/4), na sede da Fundação, em São Paulo. A conferência termina nesta terça-feira.

O evento, cujo objetivo é discutir o futuro do Sistema Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação, é uma reunião preparatória para a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que será realizada em Brasília entre 26 e 28 de maio. A abertura também contou com a presença de Celso Lafer, presidente da FAPESP, Luciano Santos Tavares de Almeida, secretário do Desenvolvimento do Estado de São Paulo, e Ronaldo Mota, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Brito Cruz apresentou uma visão geral sobre o Plano de C&T&I para o Estado de São Paulo nos Próximos 15 anos, elaborado por um comitê que inclui secretários de Estado, pró-reitores de pesquisa das universidades públicas paulistas e diretores de institutos de pesquisa do Estado.

De acordo com os dados apresentados, o Estado de São Paulo conta com uma intensa atividade de pesquisa – no mundo acadêmico ou no setor empresarial. “Nosso principal desafio, tanto na academia como nas empresas, é aumentar o impacto internacional dessa atividade de pesquisa. São Paulo possui uma base forte para enfrentar esse desafio, mas temos uma fraqueza: a disponibilidade de pessoal qualificado”, disse.

Segundo ele, para que São Paulo tenha um peso internacional proporcional à sua excelência científica, será preciso multiplicar por três, nos próximos 15 anos, o número de cientistas que hoje atuam no Estado. O fator limitante para esse crescimento, no entanto, não é a disponibilidade de vagas no ensino superior.

“O número de vagas para o ensino superior é maior do que o número de pessoas concluindo o ensino médio. Temos que aumentar o número de pesquisadores e estamos observando que a taxa de formação está limitada no ensino superior e estagnada na pós-graduação. Para reverter esse quadro, é preciso melhorar a qualidade do ensino médio”, destacou.

De acordo com Brito Cruz, a produção científica do Estado de São Paulo é a segunda maior da América Latina, superando a de países como México, Argentina e Chile. Mas a ciência paulista corresponde a apenas um terço da que é feita em países com população semelhante à de São Paulo, como Coreia do Sul e Espanha.

O número de artigos por cientista em São Paulo, no entanto, é semelhante ao verificado em países como Espanha, Austrália e Canadá. “O número de cientistas por mil habitantes em São Paulo é cerca de 0,8, equivalente ao de países da América Latina. Para chegar ao patamar dos países desenvolvidos – a Espanha, por exemplo, que tem uma dimensão comparável à de São Paulo – seria preciso ter o triplo de cientistas em território paulista”, disse Brito Cruz.

A relação entre o número de graduados no ensino superior e o número de habitantes é de 30% em São Paulo e 23,3% no Brasil, contra 55% na Espanha, na França e nos Estados Unidos. Na Argentina, a relação é de 13% e, no México, de 20%. Os percentuais mais altos estão no Reino Unido (67,5%) e na Austrália (82%).

Fator limitante

Brito Cruz ressaltou que a quantidade de pesquisadores no Estado de São Paulo, apesar das limitações, vem aumentando: passou de 25 mil em 1995 para cerca de 50 mil em 2008. Desse total, 60% estão em empresas, 34% em instituições de ensino superior e 6% em institutos de pesquisa. “É notável que a participação das empresas no número total de pesquisadores aumentou pronunciadamente a partir de 1999”, observou.

O diretor científico da FAPESP chamou a atenção para as características do dispêndio em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Estado de São Paulo. A partir de 2000, o dispêndio oscilou em torno de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e entrou em uma trajetória ascendente, na qual se mantém, a partir de 2006. Em 2008 o dispêndio já era de 1,52% do PIB, em São Paulo. No Brasil, o percentual está abaixo de 1,2%.

“O dispêndio total em P&D em São Paulo foi de R$ 13,5 bilhões em 2008. Quando olhamos as fontes desse dispêndio, vemos que a principal participação foi a das empresas, com cerca de R$ 9,5 milhões, ou 62% do total. As instituições de ensino superior estaduais contribuíram com R$ 2,6 bilhões, cerca de 17%. As agências federais e as instituições de pesquisa federais entraram com cerca de 5% cada: R$ 819 milhões e R$ 789 milhões, respectivamente. A FAPESP entrou com outros R$ 637 milhões: 4% do total”, disse.

As instituições de pesquisa estaduais e as instituições de ensino superior federais contribuíram com cerca de 3% cada. E as instituições de ensino superior privadas, com 1%. O dispêndio das instituições de pesquisa públicas é composto de 60% do governo federal e 40% do governo estadual. Quanto ao dispêndio das agências de fomento, 45% são provenientes da FAPESP e 55% das agências federais.

“Apenas 8% do dispêndio em P&D feito por instituições de ensino superior federais veio para o Estado de São Paulo. De todo o orçamento executado no Brasil em P&D, apenas 23% veio para o Estado. O investimento federal em São Paulo é pequeno e isso é um elemento limitante para a pesquisa no Estado. Os investimentos em pesquisa em São Paulo geram uma grande contribuição para todo o Brasil, portanto uma parcela maior dos recursos federais poderia ser investida no Estado”, disse.

Brito Cruz ressaltou que o dispêndio federal em P&D em São Paulo teve o mesmo valor real em 1995 e em 2008, sete anos depois, variando de pouco mais de R$ 1,9 bilhão para pouco mais de R$ 2 bilhões. “O dispêndio do governo estadual, nesse período, aumentou de R$ 2,4 bilhões para R$ 3,7 bilhões. E o do setor privado saltou de R$ 7,1 bilhões para R$ 9,7 bilhões”, disse.

O dispêndio paulista em P&D em relação ao PIB, segundo ele, é maior do que o de países como Índia, Argentina, México, Chile, Rússia, Itália, Espanha, Irlanda, China, Portugal, África do Sul e do próprio Brasil.

“O nosso alvo para 2020 deve ser elevar esse dispêndio de 1,52% do PIB para a média da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], que é de 2,3% do PIB. Feito isso, alcançaríamos um nível semelhante ao da Espanha ainda que não tão grande como o do Japão, que é de 3,7%”, disse.

Conferência Paulista de C&T&I: www.fapesp.br/cpcti

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