22 de fevereiro de 2010

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Quanto queremos crescer?
Valor Econômico/SP
Segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Luis Paschoal e Ana Maria Diniz

Qualificação da força de trabalho é chave para nosso desenvolvimento.

O maior protagonismo internacional, o crescimento econômico, a descoberta do pré-sal e a euforia por abrigar a Copa do Mundo e a Olimpíada elevam o otimismo e a autoestima e fazem com que o Brasil viva um momento de crença renovada num futuro melhor.

No entanto, se a Educação não se transformar em agenda prioritária e urgente, essa volta do "Brasil Grande" poderá ser uma profunda decepção, como já vimos num passado recente. Isso porque um dos elementos-chave do desenvolvimento econômico é a qualificação da força de trabalho, cujo pressuposto básico é a Educação. Ora, se isso não ocorrer, já conhecemos o resultado: concentração de renda, desigualdade social e pobreza crônica se alastrando.

O quadro é ainda mais preocupante numa economia global e muito competitiva, como a que temos hoje. Como já apontou o professor José Pastore, a baixa qualidade da educação brasileira é o principal entrave para que o nosso país ocupe uma posição de destaque no ranking mundial da competitividade global, onde hoje estamos entre os "lanterninhas".

Nos rankings educacionais a colocação do Brasil também não é muito animadora. No último relatório educacional produzido pela Unesco, o país perdeu posições em relação ao lugar intermediário em que se encontrava. Com todo o respeito que merecem nossos irmãos da Bolívia, Equador, Venezuela e Paraguai, que nos superaram no ranking, não há como não ficar envergonhado com a posição brasileira. Afinal, era de se esperar muito mais em termos educacionais de um país que está entre as dez maiores economias do mundo.

Se partirmos da premissa de que no mundo contemporâneo o maior valor de uma nação é a sua capacidade de gerar riquezas e inteligência, o que faz com que a educação deixe de ser um diferencial e passe a ser um pré-requisito, esses dados nos obrigam a um permanente estado de atenção.

Atenção, mas não a um pessimismo que nos leve à paralisia. É preciso reconhecer que, nas últimas duas décadas, nossa educação pública melhorou e já se tornou um tema importante na agenda do país. É uma conquista importante. Entretanto, não suficiente. A questão que se coloca agora é a aceleração dos resultados e, para isso, a educação precisa mudar de patamar, assim como ocorreu com a economia brasileira.

Ao longo de várias décadas, nossa economia passou por momentos turbulentos. A partir do início dos anos 1990, as questões econômicas deixaram de ser restritas a técnicos e a tema de destaque nos programas partidários, e penetraram o cotidiano de todos os setores do país. Com a adesão de diferentes correntes ideológicas, a economia alcançou o patamar de questão de estado. Se o Brasil quer ser grande, a educação deverá ter nas próximas décadas esse mesmo tratamento dado à economia.

E o nosso desafio é gigantesco. Com mais de 50 milhões de alunos matriculados, temos um dos dez maiores contingentes de estudantes do mundo. Porém, ensinamos mal e, como consequência, os alunos aprendem pouco. Precisamos fazer acontecer uma escola que ensine e um aluno que aprenda.

E não podemos colocar a responsabilidade apenas nas costas dos professores, pois sem a valorização do corpo docente não alcançaremos a qualidade educacional desejada. Diversos estudos evidenciam que os países que estão no topo da educação mundial, somente conseguiram esse avanço porque ofereceram aos seus educadores uma carreira atraente, com salários iniciais expressivos, além de melhores condições de trabalho e maiores oportunidades de qualificação.

Dados recentes mostram o tamanho do problema. Segundo estudo do Conselho Nacional de Educação o Brasil possui hoje um déficit de 250 mil professores no Ensino Médio, especialmente de Física, Química, Matemática e Biologia. Quando se observa os números preliminares do Sistema de Seleção Unificado das Universidades Federais, com base nas provas do Enem, não é difícil adivinhar quais foram os cursos que atraíram os alunos com as piores notas: os de formação de professores. Dos cem cursos com as notas de corte mais baixas, 75 são de licenciatura em disciplinas como física e matemática. Com esse cenário, é impossível transformar a carreira docente em objeto de desejo para nossos jovens mais talentosos.

A melhoria da qualidade da educação não se consegue por mágica. É necessário ampliar os investimentos na área. O movimento Todos Pela Educação defende que o Brasil destine 5% de seu PIB para a Educação Básica. Isso significa ampliar em aproximadamente R$ 30 bilhões os investimentos públicos diretos em educação realizados pelos três níveis de governo - municipal, estadual e federal.

Mas de nada adiantará esse investimento se ele não for norteado pelo objetivo fim da educação: o aprendizado dos alunos. E, tendo como parâmetro as avaliações nacionais e internacionais, como o SAEB e o PISA, o desempenho dos nossos alunos está muito aquém do desejado.

Diante dos resultados econômicos, todos os brasileiros, sejam lideranças políticas ou empresariais ou cidadãos comuns, devem estar se perguntando: quanto de fato queremos e podemos crescer? Será que desta vez o Brasil vai aproveitar o bom momento?

Não há dúvida que são questões importantes. Entretanto, a grande pergunta para a qual devemos buscar resposta em 2010, que por ser um ano eleitoral, nos oferece uma grande janela de oportunidades, deve ser: qual a Educação que precisamos para o País que queremos?

Isso porque, o sonho do Brasil Grande - mas sustentável e com igualdade de oportunidade para todos os brasileiros - depende da capacidade que temos de dar resposta a essa indagação. E não há tempo a perder. Não temos o direito de submeter nossas futuras gerações de brasileiros a uma ignorância sistêmica. É hora de todos colocarem a mão na massa e agirem pela Educação, como prioridade estratégica da Nação.

Luís Norberto Paschoal é presidente da DPaschoal e da Fundação Educar DPaschoal, vice-presidente do Faça Parte e fundador e membro do Conselho de Governança do movimento Todos Pela Educação.

Ana Maria Diniz é membro do Conselho de Administração e presidente dos Comitês Financeiro e de Recursos Humanos do Grupo Pão de Açúcar, fundadora e membro do Conselho de Governança do movimento Todos Pela Educação e diretora da Parceiros da Educação.



Este e-mail foi enviado por Jorge Werthein (jwerthein@ritla.net)
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