25 de fevereiro de 2010

Gangues de Londres usam estupro como arma, diz relatório

Segundo o documento, violência sexual é usada em represálias nas disputas dos grupos.

Da BBC News - Um relatório divulgado por um centro de estudos britânico indica que garotas vêm se tornando vítimas de violência sexual como resultado das disputas entre gangues em Londres.

Depois de entrevistar mais de 350 mulheres e meninas, a organização Race On The Agenda revelou que o estupro é usado para punir garotas integrantes de gangues e parentes de membros de gangues rivais.

Todas as mulheres e meninas entrevistadas estão associadas a alguma gangue na capital britânica.

A autora do relatório, Carlene Firmin, disse que o estupro está sendo usado como "a arma favorita" e que poucas organizações e serviços estão equipados para ajudar as vítimas.

Poucos dados

Firmin descreveu a entrevista com uma jovem que foi presa por vender drogas para uma das gangues.

"Quando foi solta sob fiança, ela foi sequestrada e estuprada por vários membros da gangue, como punição e para silenciá-la", disse a autora do estudo.

Segundo o relatório, há poucas informações sobre o número de mulheres afetadas pela violência das gangues. O documento ainda destaca que os poucos serviços existentes para atender as vítimas sofrem da falta de recursos crônica e estão sobrecarregados.

Peaches Cadogan, ex-integrante de uma gangue que agora trabalha com a organização Reality Bites, que tenta ajudar membros de gangues, confirmou o que diz o relatório.

Segundo ela, as meninas envolvidas com gangues não sabem como sair da situação abusiva e temem as consequências se disserem "não".

"Esses membros de gangue não têm qualquer problema em colocar uma arma na boca de sua mãe - essas coisas acontecem diariamente", diz Cadogan.

Vida de violência

A reportagem da BBC falou com jovens meninas integrantes de gangues em Londres e Glasgow, na Escócia. Seus nomes foram trocados, mas suas histórias revelam o nível de envolvimento das jovens nos grupos criminosos.

"Já bati em gente. Já tive dez pessoas me atacando de uma vez. Minha cabeça foi ferida com uma garrafa. Quando uso a violência é porque a violência é usada contra mim, então, é o troco", disse Rebecca, integrante de uma gangue em Londres.

Ela fuma e vende maconha desde os 13 anos de idade e começou a vender drogas mais pesadas desde que deixou a escola.

"Quando você está envolvida com drogas pesadas e vende essas drogas, vem os crimes com armas de fogo, facas, tudo isso."

O leste de Glasgow tem uma das taxas mais altas de crimes com facas da Europa ocidental. A predominância dos crimes é entre jovens homens brancos, mas nos últimos anos, houve uma mudança nesta tendência.

Segundo assistentes sociais de um projeto para jovens na cidade escocesa, crianças de sete anos de idade já estão sendo arrastadas para a violência e cada vez mais meninas se envolvem com as gangues.

"Hoje em dia, as meninas se juntam às gangues para tentar fazer amigos. Acredito que elas sintam que precisam ser parte de alguma coisa - elas não têm autoconfiança ou autoestima", disse uma das assistentes, Stephanie Brady.

Há uma diferença aparente entre a violência entre gangues de Glasgow e Londres, no entanto: as disputas na cidade escocesa não estão ligadas a drogas - são apenas brigas alimentadas pelo álcool.

Família como alvo

"Está piorando cada vez mais", disse Louise, de 16 anos, que entrou para uma gangue aos 13 anos.

"As meninas são tão ruins quanto os garotos. Elas vão e começam, algumas delas se vestem como rapazes, agem como rapazes e saem por aí esfaqueando outras meninas, batendo nelas e rindo, só escolhendo as vítimas."

Uma vez dentro de uma gangue, a integrante não ousa sair de seus domínios. Louise cometeu um erro e começou a namorar um menino que morava em outra área. A gangue foi atrás da família dela.

"Minha mãe foi atacada quando eu não estava em casa. Bateram nela", disse a jovem.

"Ela tinha ferimentos por todo o rosto, seu olho estava inchado... ela ficou apavorada, com medo de ficar em nossa casa."

Em Glasgow, pelo menos, as jovens escapam da violência sexual, apesar de a prática de sexo entre menores, alimentada pelo consumo de álcool e drogas, ser cada vez mais comum.

Em Londres e Glasgow, essas meninas são a segunda ou terceira geração de famílias associadas com gangues - elas não conhecem outra vida, tendo nascido e crescido em meio ao crime.

Este é um mundo praticamente desconhecido da sociedade britânica, e só agora a questão das gangues começa a chamar a atenção dos políticos do país. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

2 comentários:

  1. Lamento profundamente por essa juventude que também representa o nosso futuro. O que poderia ser feito para mudar essa situação? Talvez nem seja mais uma situação e sim uma cultura que ela carrega "Uso a violência para sobreviver", "Uso a violência para...." (uma infinidade de coisas). A questão é, a sociedade não pode fechar os olhos e cair no conformismo, todo um trabalho deve ser feito partindo de Ongs, Assistências Sociais, Casas de Recuparação e Profissionais bem preparados, pois não se trata apenas de reverter uma situação e sim, mudar uma esfera, vencer sérios obstáculos em termos de banir essa cultura tão violenta(que não se consegue a curto prazo)e, principalmente, a restauração de vidas.

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  2. É muito triste constatar que os jovens estão cada vez mais cedo envolvidos tão seriamente com a violência e com o uso e tráfico de drogas.
    É bem sabido que essa fase (pré-adolescência/adolescência) na vida da maioria das pessoas é bem complicada, até por uma questão de hormônios.Mas infelizmente vivemos uma cultura de valorização do anti-herói, de inversão de valores, de sempre se dar bem. Para ajudar a disseminar essa cultura contamos com a valorosa ajuda da mídia, afinal a tragédia e a guerra dão ibope. É por isso que acredito que a família, quando bem estruturada, é a chave para combater essas mazelas, uma vez que o respeito, a valorização e o afeto que temos ao longo da vida moldam nossa personalidade e nosso caráter.

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